Mudou


Outra noite sem dormir, outro pedaço de mim que perdi. O meu mundo já não é o mesmo, o silêncio parece quebrado, a escuridão é fraca e a barreira que nos divide está cada vez mais ténue.

Sinto o chão a tremer, até mesmo o poço que outrora me dava conforto está indiferente para o que sinto, para o que luta dentro de mim, as sombras essas então são cada vez menos, o meu mundo deixou de ser perfeito, deixou de reinar o que outrora eu chamava de poder sobre mim, sinto que o meu estatuto de viajante frio e sombrio está a chegar ao fim, agora sinto cada vez mais o vento que vem desse mundo, sou chamado de viajante ao vento, viajante que diz palavras ao vento. Palavras essas que nunca mais ninguém irá ouvir, ou sentir vindas de mim, o meu mundo está a ficar transparente, isto acontece a cada lágrima que de mim liberto, a cada passagem que concretizo, a cada suspiro em vão…

Mas a culpa de isto é minha, fui eu que jurei nunca sair do meu mundo, jurei nunca ir em busca da minha alma nem recuperar o meu coração, mas menti, pois foi o que fiz, e tudo isto em busca de um olhar, atravessei a barreira, procurei a minha alma pelos túneis que outrora eram coloridos, quis recuperar o meu coração, mas o imenso jardim não me deixou chegar ao topo da árvore onde o pavão dos juízos habita, se foi em vão? Não, nada foi em vão… Perdi? Simplesmente perdi o meu mundo, o meu reino, perdi a minha paz, pois o que consegui recuperar foi apenas um grão do meu coração e uma aragem da minha alma. Podia e posso lutar pelo meu mundo, por aquilo que realmente acredito, mas este meu mundo já deixou de ser meu, agora é teu, é do teu olhar, do teu querer, tal como eu em tempos assim fui. Destrui-me ao querer controlar o tempo por esse olhar, pois o silêncio sempre me disse que o preço a pagar por ti iria ser a destruição de mim, mas mesmo assim fui, fui contra a tua indiferença, contra as sombras que me ajudaram, fui contra aquilo que acreditei, mas não me arrependo.

Sou um viajante que agora habita no teu mundo, que deixou de ser frio e sombrio, simplesmente agora sou eu, sou eu que espero e não concretizo, vou ser eu que vai ficar no avião do desejo a voar sobre a tua cidade sempre á espera que um dia o teu olhar possa voltar.

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