"Não teria título..."

Porém, falo do meu livro... Não do vosso, (digo vosso se alguém realmente ler isto) pois nem todos carregamos a mesma história o meu livro e isso é muito bom.
Já algum tempo que ando para escrever, contudo, têm me faltado as palavras poéticas, o momento oportuno... Até que pensei e repensei e cá estou. Talvez a inspiração para o guião que ando a escrever me tenha levado aqui.
Dei conta que cada linha que escrevo, que é suposto ser em parte ficção, consegue ser um reflexo meu e isso assusta-me um pouco. Li e reli cada palavra do meu projecto, fui buscar umas caixas e li e reli textos meus quando tinha 14anos e li e reli cada texto desta blog e percebi... Percebi que durante este tempo todo, eu, Sérgio Subtil fui escrevendo o guião sem dar conta. Sorri, chorei de dor e de alegria ao reler certas coisas.
O meu primeiro amor, a doença do meu irmão, os confrontos com o meu pai, o afastamento da minha mãe, a minha depressão, a minha autonomia, França, a escola, os amigos que pensei serem eternos, a minha Tia Ilda, a dor que dei aos meus avós, o Teatro, a morte do meu Tio, a prisão do meu primo, os amores que vieram e se foram... E tantas, mas tantas outras coisas, até que percebi onde me tinha tornado o famoso Viajante ao Vento.
Decidi voltar a colocar cada texto no seu lugar, dei uma passada rápida em poemas que perdidos estavam entre os cadernos. Revi fotos que tinha perdidas entre o pó e o esquecimento e perguntei o que aconteceu aquele rapazinho que pelos vistos tinha tudo para ser o que sonha-se, tudo menos um Viajante ao Vento.
Lembrei-me... Poucos meses de fazer 18anos, sem dar conta fui mudando, subtilmente, até que chegou o dia 5 de Maio e puf! Entre os tão esperados 18anos nada previa ou me preparava para o que tinha acabado de acontecer... Conseguem imaginar a morte de um Pai (Tio) de coração um dia antes do vosso aniversário? Onde eu tive que passar o meu aniversário sozinho, sem um ombro onde chorar, sem uma palavra conseguir pronunciar. Quase que voltei a quebrar e a cair na vala, porém, engoli as lágrimas que se apoderavam de mim e descobri um mundo onde o Silêncio e a Solidão são Reis, onde tenho um poço que me dá conforto, um mundo onde estou protegido por uma barreira, um mundo que eu pensei que podia entrar e sair sempre que eu assim o deseja-se, contudo, estava enganado e como já o referi em outros textos... Hoje pago essa factura.
Foi nos meus 18anos que me tornei num Viajante ao Vento, neste ser que poucos viram ou sentiram. Neste ser que paga a sua conta todos os dias, que não é um herói ou vilão, simplesmente é um Viajante ao Vento, um ser comum a tantos outros que como tal... Não tem título para a sua vida.
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