Deixei
Desde a última vez que cá estive tanta, mas tanta coisa mudou... Mudou a morada, os sonhos, as conquistas, os amigos, a família, enfim. Tudo mudou. Ao longo destes meses pensei ter finalmente deixado de ser o Viajante ao Vento, mas afinal estava redondamente enganado, ele esteve sempre comigo, aliás ele e eu somos unicamente um ser, porém por vezes esqueço-me...
Hoje olho em meu redor e não sinto nada, olho ao espelho e não reconheço aquele ser ali reflectido. "Quem és tu?", "Deixas-te tudo isto acontecer porquê?", "Que vais fazer agora?!"... São estas as questões que vagueiam, ainda do que resta da minha mente mais elucidada... Hoje não aguentei aquele reflexo e simplesmente parti em mil pedaços esse objecto que me persegue, esse reflexo que me relembra todos os dias as cicatrizes no meu corpo e na minha alma e que fui obrigado a trazer comigo na pouca bagagem que ainda me resta.
Fui atrás de um amor, de promessas, deixei para trás todo um reino governado pela Solidão e a Escuridão, quebrei as correntes desse mesmo mundo e simplesmente atrasei o portão para o mundo dos vultos... Senti o calor do Sol, a magia da Lua, senti o calor da amizade, as borboletas do amor, porém, esqueci-me de fechar tal portão e sem que eu desse conta o Vento veio. Veio reclamar o que era dele, a promessa que eu outrora lhe tinha feito, pois ser o herói tem o seu preço e eu ainda não tinha saudado tal dívida.
Deixei-me levar e embalar que nem folha caída de outono... Calei as vozes de avisos à minha volta, deixei que muros à minha volta fossem contruidos, deixei... Deixei de ser eu, o Sérgio Subtil, deixei de acreditar nos meus ideais, deixei de ter voz e simplesmente ali estava como uma simples marioneta perdida no fundo de um malão coberto de antigas recordações de felicidade.
Tudo isto porque acreditei... Acreditei que estava na hora, mas na realidade nunca esteve e terei sempre estas cicatrizes para me lembrar.
Dois meses passaram e eu simplesmente, sem ter chão fixo, levantei-me todo a tremer e sai... Deixei que o vento fosse o meu companheiro, tal como sempre foi, o meu mais que fiel companheiro e agora aqui estou, nem caído nem erguido... Simplesmente aqui estou no meio de pensamentos e meras recordações de amizades perdidas, amor criado numa ilusão, uma vida varrida para baixo do tapete. E tudo isto por culpa minha e unicamente minha. Perdi a minha essência e simplesmente já não sei quem sou sem ser o Viajante ao Vento.
Se terei forças para me erguer mesmo? Nem as sombras desta mundo me dão a resposta. Voltei a ficar preso às correntes que a cada respirar meu fazem com que levemente o meu sangue caia neste chão gelado de pedra.
Olha para trás e percebo que bati mesmo no fundo do poço e simplesmente não sei se terei forças para o subir... Volto a olha para o chão, para os pedaços do espelho que parti e penso "Será que sinto alguma coisa se puser os pés me cima?"... Nada, nada! É o que sinto, não consigo libertar qualquer sentimento, qualquer gesto ou som sequer, estou puramente vazio de simples nadas.
Permiti, cedi... E agora voltei, mas para que finalidade?
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